AOS NOSSOS VELHOS

A pressão do teu corpo

Sobre ele

Um tempo doente

Sobre ele

Cumulativo: doentio

Sobre ele

Te digo: serão escaras.

Estas, sobre ele

Mapas de carne

Da carne sobre ele

O pó do pó

Da ampulheta sobre ele

Te digo: sou eu –

O olho fechado

(Sobre ele)

No espelho, o tempo é

Futuro. 

S.C.M.

Veio!

A chuva veio!
Não feche a janela
Deixe as roupas no varal,
a roupa 
a roupa de cama:
Encharcadas! 
Me deixem correr
Viver na rua
Afogado 
Em cada pingo.

S.C.M.

UM INSTANTE DA PAZ

Meninos brincam brigam

Abraçam-se sorriem:

Desdentados dentes de leite

De meninos.

É um instante.

O primeiro do dia da vida o último

Feliz.

Único.

O real mente

Eu o sou:

Um relógio um segundo pesado

Um coração

Apertado:

Um quadro mudo.

Às quatro da tarde

Um instante me imprime.

S.C.M.

A quimera da seca

Não me lembro da chuva.

Aliás, também

Não me lembro dela

Na primeira vez

Que a vi

Nem na última.

Me lembro

Sim

Das nuvens formando

Anjos, depois

Demônios

Lunáticos

Das luzes

Do cheiro

Da terra ou

Da água

Ou

Do céu e

Uma carruagem.

Das nuvens ou

Dos anjos e

Dos demônios
Do meu dorso molhado

Na chuva.

S.C.M.