os êulikes
Mamífero do pelo denso e encaracolado, os êulikes são originários da Escandinávia. Ainda Que tenham se espalhado por todo o mundo, o trote lento dos bois, em manadas tristes feito morrer, os êulikes são bichos vivos e bem alerta.
Ver um deles já é ter visto todos – há um êulike, só um, segundo a antiga lenda finlandesa, vivendo nas montanhas, a salvo de todo olhar e de toda curiosidade, protegido também da convivência com seus pares, este cotidiano inóspito e, algumas vezes sanguinário, em que cunhados se matam e mães suicidam-se nos domingos desprevenidos.
Um só êulike-rei ( kingzêulike) nutrindo-se de sua solidão montanhesa é assim que um sol a beber, na água que desce dos riachos, direto do coração da montanha. E porque seja dessa maneira, o êulike-rei (kingzêulike) já começa a criar, de cada um dos flancos, a penugem esbranquiçada que, muito mais tarde, daqui a uns três milhões de anos, será deles as fortes asas.
Quanto aos outros êulikes, estes que imersos na companhia a mais constante, vagam pela Terra, só resta a eles uma esperança – o dia em que possam dizer a seus pares uma intensa, aguda e nunca esquecida palavra de amor. Se bem que perguntem por que o êulike da montanha não alcançam nunca dizer de alguém o amoroso propósito e a dúvida exata que, já no instante seguinte, dissolve qualquer intento namorador.
Os êulikes são animais dúbios chorando seus infortúnios de si, e precisam ver como, agregados, em bandos com milhares de cabeças, mugem, e balem e ganem, numa profusão de ruídos capaz de enlouquecer quem os escute.
Wilson Bueno
In Memorian